O problema mente-cérebro
''O aparecimento e a consolidação da Inteligência Artificial simbólica
nos anos 70 trouxe um impacto profundo sobre outras áreas do
conhecimento, sobretudo para a Filosofia. A questão que os filósofos
levantavam nesta época era a seguinte: se computadores são um tipo
especial de arranjo material, ou seja, uma combinação de elementos
materiais de silício ou de qualquer outro elemento da natureza, e se eles
puderem realizar tudo o que uma mente humana realiza, não haveria
nenhuma razão para supor que mente e matéria são diferentes.
Poderíamos igualar mentes e máquinas, cérebros e mentes. Este tipo de
conjectura reavivou um dos debates mais tradicionais da Filosofia, qual
seja, o problema das relações mente-cérebro.
Este é, na verdade, um problema filosófico milenar que tem
suscitado, por parte dos filósofos, a produção de uma multiplicidade de
diferentes teorias. Na Filosofia moderna este problema aparece pela
primeira vez através da obra do filósofo francês René Descartes, no século
XVII. Descartes foi o primeiro filósofo moderno a argumentar a
favor da separação entre mente e corpo, sustentando a existência de uma
assimetria essencial entre estas substâncias. Mente e cérebro (ou corpo)
teriam propriedades irredutíveis entre si, como, por exemplo, a
extensão e a divisibilidade, que seriam atributos do corpo −propriedades
que em hipótese alguma poderiam ser atribuídas à mente ou à
substância pensante.
A questão levantada por Descartes atravessa toda a Filosofia moderna,
tendo sido alvo da atenção de vários filósofos nos séculos seguintes.
Um dos problemas cruciais que emergem a partir da doutrina de Descartes
é saber como é possível que uma substância imaterial (a mente) possa
influir causalmente numa substância material (o corpo) e determinar
a ação consciente ou deliberada.
No século XX, o problema das relações mente-cérebro passou a ser
estudado mais intensamente, em grande parte pelo desenvolvimento das
ciências do cérebro, que acalentavam a esperança de que ele poderia ser
resolvido à medida que se compreendessem melhor os mecanismos cerebrais.
Por outro lado, a partir da segunda metade do século XX aparece a
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Filosofia da Mente, um ramo específico da Filosofia que tem por objetivo
estudar a natureza do mental, tomando como pano de fundo as descobertas
das neurociências e as teorias propostas pela Ciência Cognitiva.
Existe uma grande proliferação de doutrinas filosóficas que concebem,
cada uma a seu modo, as relações entre cérebro e mente. É possível
agrupá-las e classificá-las de diversas maneiras, cada uma respeitando as
especificidades de cada concepção'' p 12 .
Referencias TEIXEIRA, João de Fernandes
Mentes e máquinas: uma introdução à ciência
cognitiva / João de Fernandes Teixeira. − Porto Alegre :
Artes Médicas, 1998.